domingo, dezembro 11, 2011

overdose

lá em casa é um lugar
com cheiro de sorriso
e textura de pessoa
dendê e atenção nas histórias
respeito aos mais velhos
guitarra baiana, molequeira
balanço sincero com ritmo
de coração acelerado
lágrima de nostalgia da mortalha
nota na voz malemolente e quente
lá em casa é gente
reconhecida pela voz
pela paixão e zelo
estado grande de solidão
mas a gente se encontra
e pra cada santo faz apelo
que não nos tire nunca ardência
nem pimenta nem malemolência

terça-feira, dezembro 06, 2011

jogatina

desde 1993
te quero
tínhamos 15
hoje 33
no nosso jogo
nosso preço
peças de xadrez
te ganhei
amei
até dias mais tardes
ter seu não 
vencendo, sendo
meu disparate
cheque mate
perdemos aos 23
de qualquer outro tempo

segunda-feira, dezembro 05, 2011

tríade

eu amo vocês
uma declaração
a nós três
registrada na
cartografia do
meu coração
para a comunhão
total do nosso
bem, que
assim sejam
meus os
sentimentos
que tens
eu, tus, vocês
divididos e
unidos num
só coração
nós, os três

quinta-feira, dezembro 01, 2011

venci?

de tanto pensar ganhei
ganhei uma dor de cabeça nos olhos
um monte de fumaça saindo
pálpebras embaçadas e inquietude
eu prefiro vidas complicadas
coisa de espiritismo regredindo
dentro é tanta confusão
que nem a profusão de pessoas
incomoda tanto: elas não me veem
eu não as vejo e tá tudo combinado
só não tá certo o primeiro parágrafo
nunca ganhei nada, nunca arrisquei nada
levei boas palmadas da vida
calos, dores e feridas foi tudo o que arranjei
confesso: o problema é todo eu

domingo, novembro 20, 2011

finado

é feriado aqui perto
sem sofrer e sem sofá
a vida passa feito
relógio cuco des-pertador
dentro daqui é furado
a água sai pelo buraco
dormir uma esperança
que o pescoço descanse, decreto!
supermercado de emoções
abra amanhã porque é feriado
precisaremos decerto
de feijões e corações

domingo, novembro 13, 2011

ruído

igual ao ano passado
quando o coração fervia
a sua espera
tudo o que sentia
tirava o fôlego
igual a cantar Etta James
subir a ladeira
te querer
no final desse ano
vai ser final da solidão
ou da espera
ou seu fim
do disco que acaba
com ruído de risco
igual seu nome
na minha poesia

quinta-feira, novembro 03, 2011

podreira

calo enquanto meus calos
falam uma dor aguda
sangue saído da verruga
são os meus podres

falo pra tirar minha culpa
esfoliando com água a pele falida
limpando a crosta esfregando
espalhando folículo de nojura

no ralo peles, lodos,calos
a superfície estranha a mim
é parte da poeira suja
de boca podre, de carne dura

segunda-feira, outubro 31, 2011

tradução

observar
outros se rasgarem
seu deus dormir
boca no beijo
assistir o ônibus
passear
mão subir
fila andar
fumaça e nariz
acompanhar
dedos de ogan
pés a marcar
alisar
flores que se
oferecem
ofício de sofredor
de parar o tempo
sagrado
numa folha


sexta-feira, outubro 28, 2011

non stop

caminhos para o mundo
são curtinhos
audaciosos e atrevidos
tem bastante solidão
alucinações neles
soltos na buraqueira
da vida formosa
mostrando o sol de Olinda e
os relógios atrasados do Fórum
a certidão de chegar
o asfalto da felicidade
tá feito!
rindo feito besta
na cidade sem eira
Beira-Rio
Ribeira
apaga a solidão e 
escreve novamente na areia
IMENSIDÃO

quarta-feira, outubro 26, 2011

profecia

enquanto aqui o mundo gira
me pergunto o que ele faz
parado procurando o tempo
com fotografias e aviões fúteis
tão mais interessante as músicas
que canto de noite na sala vazia
dele bem mais que as
notícias da TV muda e dos sites
colombianos ridículos
vem tomar café aqui em casa!
tem umas revistas rasgadas e
um tapete pro nosso futuro
cachorro
tem mel e queijo
no meio da noite, um beijo
seu mundo vai acabar
corre, vem pro meu
os blogueiros não mentem
aqui no quarto tem incenso
e a gente pode andar de metrô
em Recife nos fins de semana
ao menos que seja melhor
ter um sofá de couro e comer
duas horas antes do mundo
as ambulâncias ainda gritam
meu peito te chama baixinho
desliga o som e deixa música
sem o final do te amo

sexta-feira, outubro 14, 2011

do muito em mim

ela me chama todo dia
como chegava na janela
dizendo que era hora de
parar a brincadeira
chorosa, eu quero ficar
mais um pouco, só pra
terminar o baleô, o onoum

as mãos no queixo cansado
a voz tão linda diferente da minha
que me chama agora com mais
apelo, carinho, zelo: Sobe menina! Já chega, volta logo dessa brincadeira.

ela nem sabe porque todo dia me
aperta o peito e dá vontade de
chorar embaixo do chuveiro
de levá-la comigo pra proteger
ela sabe tudo só não sabe que
muito do que a gente queria era
guardá-la numa caixinha de
enfeitar noites e tornar tudo
calmo, forte, rosa e mãe

quinta-feira, outubro 13, 2011

a doçura da felicidade

cócegas na boca
são brigadeiros
encontrando a saliva
fazendo rir o corpo
inteiro
atingem o cérebro
como morteiro
o efeito na barriga
é feito no prazer
no sorriso com dente
preto
cheio de graça e doce
ave maria como é bom!
alegria nas paredes
brigadeiros no sorriso

segunda-feira, outubro 10, 2011

um poema em cada árvore




Um poema em cada árvore (13ª edição) é um projeto do Instituto Psia que reúne poetas de diversos estados no Brasil nas árvores de Governador Valadares (MG). Para saber mais, veja.

terça-feira, outubro 04, 2011

mais do mesmo

muito revolucionário exatamente quando
o pensamento vem no transporte público
quando a vontade de mudar tudo transborda
produzindo um monte de tópicos para
"o que fazer amanhã de manhã"

ousado demais o comportamento de olhar
por entre as frestas dos braços brancos
mirando as pernas grossas de alguém
que usa óculos e segura um guarda-chuva
desviar os sinais do corpo é mais seguro

surpreendente encontrar um confeito
no bolso de trás da calça jeans lavado
adoçando o longo caminho de casa
faz em vinte minutos quando não tem
trânsito na avenida principal da escola

adoçando, surpreendendo, revolucionando
as noites repetidas com banhos quentes
pés descalços, chocolates e músicas de tv

quinta-feira, setembro 29, 2011

poesia após a morte

quem sempre te salvou foi a poesia
nas horas mais doces ou em que a
dor no mais profundo vinha e doía
era lá que as palavras ganhavam
função de aliviar fortes sinapses
acalantar a ferida como merthiolate
ardendo no início, sarando no fim

te pegando pela mão e te levando
a passeio na praia de jacumã igual
quando você cantava pra esquecer
fazia alto tão alto que alegrava a si
ela borra seu batom com lágrima
regenera a pele crequenta de sofrer
foi e será a poesia sua redenção:
senta então pensa e termina a oração

segunda-feira, setembro 26, 2011

imagem do dia

ela quer ver aquelas ladeiras
com paredes de grafite bonito
e as ondas do mar balançando
como os cabelos dele por sobre
seu peito nu e rígido de amores
ela quer ter o cheiro de acará
dançar, pular até doer a panturrilha
chamar de seu o homem das finas
linhas e mãos pequenas roliças
sentir o sol que sorri em cada
guri da esquina da Pituba à Barra
andar nos museus sem deixar de ver
os pretos que miram o tempo parar
sentir seu chão, seu céu, seu pão
se achar com tudo seu que ficou

segunda-feira, setembro 19, 2011

sonhos de uma noite de amanhã

tinha sede nos músculos
ardência nas peles duras
antes de você era um
pequeno e gostoso suspiro
nas noites em Minas Gerais
tinha umas loucuras matinais
pular muro, voar e dar
aí depois veio você
e deu uma vontade de receber
de ter e ficar só isso por um tempo
nunca mais você foi de mim
aqui toda noite fico eu sem
naqueles longos beijos nem

sábado, setembro 17, 2011

morena de yemanjá

falar mansinho na diplomacia
rezar baixinho e dar um abraço
com um tapinha nas costas
sorrir demorado e sempre dizer obrigado
tomar café e chupar picolé de Seu Luís
furar onda e amar o mar com suas algas
verdes e vivas iguais as contas de mamãe Zeca
aprendi com ela: mansa, elegante, singela
D. Francisca, a mulher primeira dentre as 7
a morena mais chic, sincera, humilde e bela
das margens azuis e salgadas do Rio Vermelho

quinta-feira, setembro 15, 2011

sede de mudança

nada de importante
é só poesia pra mudar
fazer algo diferente
de noite lá em casa

não há nada de revolução
letras agarradas na tecla
transpostas da cabeça aos pés
é o que me chama, é o que são

nada novo a gente pediu
só imaginou que podia ser
a voz do lado confirmou
você nunca fez nada, viu

nem relevante você é
nunca leu Dostoiévsk 
nem nenhum Romeu foi seu
chame isso do que quiser

é tudo menos o que querem ser de grande e infinita poesia


com açúcar e união

vamo juntar tudo
sua mão na minha
o refrão e a primeira linha
nossa solidão
vamo arrochar o guarda-roupa
afastar do copo minha escova
juntar nosso sofrido amor
traz um pouquinho de quentura
do desejo por mim bastante usura
e não me leve a mal
só quero que me pegue
e juntos pelo fim da distância
façamos a tal atração fatal

quarta-feira, setembro 14, 2011

last night you were there

espero a água do ralo descer
e com muita paciência
listo na geladeira
tudo que tenho pra fazer
deixo a profusão dos versos
atropelarem as louças na pia
e corro pro papel secar minha
mão com sabão e escrever de noite
atrapalho tudo dentro de mim
e ajo como se não houvesse eu
amanhã de manhã no expediente

os fantasmas do meu quarto esperam
enquanto eu ouço mais uma música
e penso que aquele menino me quer
alguém me disse que ficava sincera
quando escrevia ou bebia ou ria
já se foi toda a água e voltamos
juntos ao ralo de partida
cumpri a lista e amanhã meio dia
te direi o quanto te amo assim
meio como quando não queria


diálogo de um

se eu chamar
você vem, será
na manha
na minha
sem demorar
quero bombons
e bons beijos
demorados em mim
chegue aqui comigo
veja, sem pudor
as silhuetas e curvas
que a gente junto faz
me diz que vem e vai
chega no ouvido e me confunde
deixa que eu gosto, me iludo
como chamar pra comer é dúbio





terça-feira, setembro 13, 2011

termina

as dores do dia
um mundo de dedos
dos pés que calejo
ralando nas pedras
divago andando
que diabos fazem as pessoas?
devoram dados
descontam dívidas
escondem medos
decoram vasos
não andam como eu
não pedem, mandam
e os dias recorrem
terminam cansados
doridos e magoados
no quarto que é meu

terça-feira, agosto 30, 2011

ouro besouro

o que vale a pena?
corridas na praia
dias de sorvete
beijos na boca
feijão aos domingos
risada dos meninos
baba no campo
aulas de tango
bolo de chocolate
banho de mar
vale ouro de mina
um pote de sonho
acorda, menina!


quinta-feira, agosto 25, 2011

boas tardes

queria era
umas tardes
vazias
pra ver tv
comer pipoca doce
ouvir novela na cozinha
sozinha
com meus
questionamentos ao espelho
falando às paredes
varrendo a casa
cortando as flores
retocando o canto
da casa de vermelho
tardes com melodias
de mãe que leva no médico
e depois te compra um doce
pra distrair
vazias de sons
cheias de amor
com ventinho frio
e café quentinho
era de uma tarde dessa
que minhas costas e coração
precisam


segunda-feira, agosto 15, 2011

desengarrafei

parei de me ofender
me agredi
e deixei o acaso
tomar conta
botar no colo
pra dormir
fui largando as frescuras
sentindo o gosto
da manga purinha
cantando uns sembas
tangos, ladainhas
me deixando de mão
ao sabor cítrico do vento
vendo homens no bar
argumentos
só deixando
soltando sentimentos
chupando mentos
e refrescando
o bom da vida
chegadas, muitas
e mais ainda: partidas

quarta-feira, agosto 10, 2011

criatura minha

deixe de maresia
e vem
vem ser minha
criaturinha
me abraça e jura
que nenhuma dor
ou agrura
vai tirar minha
mão da tua
esquece o medo
e hoje, a lua
repare a noite
foto da vida
surpresa metida
só minha e tua

quarta-feira, julho 27, 2011

memória cheia

detesto esquecer
ave maria!
como é ruim procurar
e se perder
chamar por alguém
aquele nome de certeza
e a pessoa não responder
procurar o lugar
e não encontrar
sendo que
"já estive lá..."
antes
durantes
memória ruim
me invejam os elefantes
bonito é
quando estás sentado
esperando
no meio tempo
pensando
posso estar no lugar errado
com a bunda fincada
em perfeito quadrado
enquanto
se pega pensando
"porque diabos
não trouxe anotado
se tivesse lembrado"
lembraria do lugar
oras!
e não resmungaria
ou fantasiaria apavorado
o maior vexame do mundo
parado, tentando se desculpar
frustrado querendo esquecer
o que deu errado

quinta-feira, julho 21, 2011

enrola a ação

muito lero
pouca lira
muito cheiro
pra pouca comida
fala fala fala
e diz nada
pra que dizer
se o importante
que é fazer
não se concretiza?
dá nos nervos
martiriza
aborrece
irrita
fecha a boca, porra!
e mãos à obra
agiliza

domingo, julho 17, 2011

memórias saborosas de um olfato

flores roxas
alfazemas doces
são os ventos
que carregam
o fino traço
ao olfato
essências puras
amoras cítricas
maduras
vem penetrando
em mim e
sem pedir ou insistir
já está dentro
suavemente trazendo
cheiro de memória
sabor de tempo

quinta-feira, julho 14, 2011

toc toc

é a poesia!
que traz tudo
o que não queria
uma saudade doída
aquele beijo de partida
traz os lençóis
chuva
chocolate
bebida
casaco
caracóis
a voz incessante
que grita
pedindo escrita
atenção, apelo
nesse jogo
de amores
perdidos, despidos
à minha beira
com os mesmos
queira ou não queira
me toma nos braços
enfeitiça num balanço
e apesar do contraponto
me deixo conduzir
por tanto

quinta-feira, julho 07, 2011

presente do momento

se é pra dá
poesia eu vou
devagar e leve
levo vestidos
arrancados
petiscos
pra escrever depois
vamos nos
marcar o instante
último momento
quente latente
chama que é bom
e dá nisso
colo cama e poesia

segunda-feira, julho 04, 2011

.

oxente pulei as folhas!
esqueci delas, mas
vem na mente
um palavriado bom
chique e retado
só pra preencher
o espaço
formar versos
ligar os laços
pisando nas folhas
borrando as bolhas
mesmo sem rimar
e vamos aprumar!
perna
tapete
traveco
escrevendo a esmo
que nem analfabeto
procurando o
que não há
de se encontrar
agora é terminar
pois o papel está completo

quinta-feira, junho 30, 2011

curtinha

poesia que eu queria
ter feito
são como tiros certeiros
no peito
eu vendo a mim sobre
meu leito
morte certa que não mais
rejeito

quarta-feira, junho 29, 2011

precipitação

prefiro lágrimas em vão
a sorriso precipitado
não porque goste de sofrer
mas a lágrima é mais fácil
de apagar
o gosto do sorriso é salgado
e chega a amargar
quando se é dado sem permissão
sorriso amarelo, este então
é o que não suporto esboçar
e de choros antecipados
vou vivendo, explodindo cada
instante com a chuva de olhar
é mais tranquilo pra mim
que ainda tenho muito pra chorar

terça-feira, maio 31, 2011

turbilhão

As palavras que colocas na expressão do teu rosto
Fazem-me beber os silêncios que me contas
Gestos, indefinidos, decifram o bater de um coração agitado
Gostar de ti não é tão simples assim
Mas na verdade não se torna complexo, quando sentido
Com o teu jeito, a cada dia me mostras que é possível viver sem ti
Mas não o que me faz feliz, e completa, inteira e intensa, composta por pedaços não inteiramente meus


poesia de Cátia Gomes

sábado, maio 28, 2011

poema para um grande amor

se apaixonar por uma cidade
se emocionar com seus sons
sentir saudade das ladeiras
dos jogos ordinários dela

caoticidade das pessoas
sorriso do sol a presentear
paredes que são seu retrato

enamorar-se a um lugar
falar dele noite e dia
com lágrima na garganta
vibrato de amor

as vidas foram unidas
pelos atabaques do coração
pela brisa fresca do poeta
pelo vulto dos casarões encantados

de tanto estar em você
a cidade também te ama
e te envolve com ciúme
relacionamento cosmopersonal

dança das paredes, do asfalto
é o amor entre um solo e uma
multidão, entre alguém e sua criação

quinta-feira, maio 26, 2011

traquejo

para apreciar o sol pestanejo
e se quero nas ondas andar
me deito e aqueço meu corpo
a elas, linhas do lençol equador

se quiser me amparar, bocejo
elejo um dia da semana e sem
gracejo tomo a atitude correta
as dores engulo com pedaços de queijo

meio enrolada percebo
que nada me falta
mas que a alegria
que tinha antes traquejo
me foge das mãos
tal qual inquieto brinquedo

domingo, maio 15, 2011

murrinha

solidão é se ver no espelho
só lodo, bafo e mancha
sozinho com mil amigos
adicionados no condicionador
três dormem contigo
mas os mesmos três sós

olhar pra você é nojo
sentir esse cheiro, entojo
ferida, ranho e calo
isso é cheio de solidão
espumas limpas no ralo
é assim que se é só

sábado, maio 14, 2011

_____________________________navalha da trsiteza

aprendi a me rasgar por dentro
me ferir sozinha
entranhas minhas
a sorrir calada com lágrima
entalada com a garganta doída
aprendi a me cortar louca
e depois limpar meu sangue
com o sal da minha língua
vendo todos olharem
pensando que sou bem
que tenho e bem vou
a tristeza quem me ensinou
se digo hoje eu sei



terça-feira, maio 10, 2011

drinks

quando bebo te preciso
choro até ficar sã
quando bebo além de rodar
me coração te quer com afã
de quem ama e não tem
sensação de
rimem!

segunda-feira, maio 09, 2011

alguns poucos olhos

as pessoas veem dores
veem bichos, hospitais
amores
as pessoas veem o que querem
eu quero que você me veja
me olhe com olhos tranquilos e meus
mas as pessoas veem medo
veem vela e dedo
eu é que sempre te vejo
de tanto olhar fico tesa
e ao me despedir
impeço o que me deseja

sábado, abril 30, 2011

laia

as melodias
que você me ofereceu
ficaram gravadas
e não há como apagar
os momentos marcaram
os minutos no meu relógio
te trouxeram de bandeja
me deixaram louca
e acabou
deixa aparecer
deixa vir outros dias
me dá tudo o que deseja
que você seja

sábado, abril 16, 2011

novo

bunitas as placas de lá
miragem de lugar
ah, como é bom se perder
e te encontrar
não ter ninguém a ligar
resmungar
implorar

bunitas as meninas de lá
meninos num inconstante piscar
são os donos da rua
das moças todas nuas



terça-feira, abril 05, 2011

criação

às vezes te vejo sorrindo
cantando, vindo
preenchendo meu humor
me confundindo
sempre sinto você
pegando, amando
sentindo
queria que estivesse
fingindo, criticando
mentindo
mas tudo foi real
e me sinto amando
gritando, caindo
nessa invenção de nós dois
por favor pare
estou resistindo


sábado, março 19, 2011

balanço

sensação de gangorra
quem empurra sente?
voar rápido, tente
pegar o céu antes que ele corra

que balanço sensacional
é mais que a gente
mais que dois, plural
uma viagem recorrente

faz cócegas à cabeça
tonturas na boca do estômago
e antes que me esqueça
faz um bem danado

quinta-feira, março 10, 2011

diária

todo dia um
todo dia só
todo dia som

todo dia dor
todo dia odor
todo dia amor

todo dia oro
choro
horror

quarta-feira, março 09, 2011

como vem

poesia nasce sozinha
e não adianta pensar
em temas, vivências, dilemas
aí sim ela não vem

vem sem medo
na loucura, na cama
se fazendo segredo
não chames, ela não vem

tem vontade própria
cresce involuntária
no peito, insólita
poesia não é bebê
vem sem a gente saber



sábado, fevereiro 26, 2011

lá (ou quando eu for)

quando eu for
prepare a cama, lençol, amor
deixe o xale, café, fervor
tudo para quando eu for

limpe a sala,
o jardim, o peito
será nosso dia, nosso altar
nosso leito
prepare tudo, meu amor
tudo para quando eu for

aquele som, o vinho, a flor
feche a porta, a cortina,
e o calor
tudo ao redor sorrirá, me prometa
por favor
prepare tudo e estarei linda
em tudo para quando eu for

quinta-feira, fevereiro 17, 2011

doído

E nesses dias me ponho a chorar
pra dentro, que não sou mulher
diz sempre meu homem interno
a implorar
sufocar

Às vezes me pinga o suor
tentando dizer que é lágrima
ah, sai pra lá
não tenho nada a dar
resmungar

É momento secular
onde o que era eu sai
e pra fora vai
levanta, criatura
homem não cai
nem muito menos
pretende chorar

quarta-feira, fevereiro 16, 2011

três

coração de dois
nunca fui única
exclusiva
especial

estava ali
e pensava noutro
parecia que o que tinha
cada vez mais
era pouco

me dê seus amor
os dois, ambos
bons, ocos
quero dois
um amor é pouco

segunda-feira, fevereiro 14, 2011

acidades

não são as luzes da cidade
mas os faróis que me assustam
os homens não sabem o que é bom

as rimas não vem
falsidades da cabeça
ao cérebro convém

entre um verso e outro penso
e dispenso apresentações
não quero sonetos, nem canções

não são as cidades que me assustam
são as pessoas que caminham
e não me dão referência, inspiram
aff, que maledicência

outro verso e penso
que não sei fazer nada
preciso caminhar de cabeça
me jogar pra pêndulo

desconsidere essa mistura grotesca

sexta-feira, fevereiro 11, 2011

pedido

toda volta angustia
então volta
vem meio dia

traz bolos, cores, amores
volta a me dar calafrios
risos frouxos, merendas
assobios

nossa volta é querida
ah quem me dera
aquele frio na barriga
e ser toda sua

outra vez

quarta-feira, fevereiro 09, 2011

quentura

expelem fogo
essas paredes do meu lar
a brisa do mar
não me encontra
está contra mim

solução para os dias
seria banho, reza, água fria
no meio tempo derreto
enquanto meus dedos fazem poesia

terça-feira, fevereiro 08, 2011

segunda-feira, fevereiro 07, 2011

nuvem (ou lá do alto)

bom é ser nuvem
nesse vai e vem
passar sempre bem

bom é ser ninguém
e passar desapercebido
andar sossegado e atrevido

bom mesmo é ser sabido
sem regalo ou sem vestido
ter a vida como um gás
branco, puro, querido


quinta-feira, janeiro 27, 2011

de noite

porres
dores
goles
o que fará te esquecer

choro
coro
outro namoro

vá embora
porque cada hora
é muito dia a devagar


digitando

conversas sensuais
vazia de assuntos banais
como eu queria que voltássemos atrás
e tudo fosse inocente, nosso, crescente
falas apagadas com teclas
janelas fechadas
amor de fachada

conversas não são mais
que palavras jogadas
sentimentos como porradas
esquecidas por quem dada
lembradas por alguém sofrida

terça-feira, janeiro 25, 2011

quarto andar

tardes ventosas me dão
sono
som
tardes de céu cinza
de nuvens brancas
apartamentos comigo

tardes calorosas me dão
fome
nome
noites de tv's ligadas
brancos de computador

tardes solitárias me dão
você

segunda-feira, janeiro 24, 2011

quarta-feira, janeiro 12, 2011

tédio

você entediou meu coração
e quando eu vi o mar da Bahia
tranquilizei aqueles pensamentos
era você me entediando outra vez

melancolia era seu nome
esconderam de mim
não me disseram antes
se eu soubesse eu não veria
aquele mar de amores

você arrebatou meu coração
levou pr'aqueles lados
e nunca mais o trouxe pra mim
não me importa, fique
ele é mais seu do que dessa dor torta

(podia também se chamar "mar da Bahia")

segunda-feira, janeiro 10, 2011

.

pálpebras: palmas
estás resistindo a mim
e não cerres enquanto
terminem meus olhares

domingo, janeiro 09, 2011

era (ou ainda será)

essas horas eram nossas
frações fixadas no visor
de qualquer um de nossos
celulares, medulares
nessa hora exata
a lua era nossa e nossa cama
era um pouco minha e muito sua
preenchidas pelos amores vazios
e conversas de cobertor
essa era nossa hora
de eternizar o segundo
e entender baixinho nosso mundo

sexta-feira, janeiro 07, 2011

misturado

apertos repentinos
significam ideias no peito
permitem fantasias
sonhos e pernas
abertas

sentimentos assassinos
verificam se há conserto
investigam primazias
sinapses e olhos
fechados

regimento de menino
machucam direito
mergulham alegrias
num mundo e ouvido
cansados

quinta-feira, janeiro 06, 2011

me negar

esquecerei as ruas
não mencionarei as janelas
corriqueiras, cotidianas
não serão poesias os passos
nem tampouco os beijos
motoristas
malucos
merecerei julgamentos
escárnios, lamentos
apagões, denegações
esquecerei meus elementos
minhas espumas
minhas palavras
e ficarei vazia
despreenchida
esquecerei de quê se escreve
esquecerei de viver

quarta-feira, janeiro 05, 2011

suor

na cidade onde o sol não morre
tudo derrete
o chão, as árvores, o coração
o asfalto ferve e o brilho
do astro cintila os carros
que calor do inferno!
trinta graus sentidos
na pele que arde
no prédio que desbota
e bota água pra dentro
a cidade onde o sol nasce às seis
cansou de derreter dessa vez

terça-feira, janeiro 04, 2011

falta

fazem falta as peles
os dias a encostar
meus pés nos seus
fazem falta os cafés
e os sorrisos melódicos

trazem saudades de volta
suas mãos eram milagres
trazem cardápios à porta
mão na minha me sufoca

arranca-me o ar no verão
mas não me deixa só no refrão

segunda-feira, janeiro 03, 2011

decorar

vestidos coloridos
para festas de tarde cinza
jogos imaturos de família
e casas de parede rosa

o mundo é uma roda, menina
hoje é azul, amanhã é nódoa
amarelo, bege, anilina
o que importa são as voltas

lilases enfeitam as unhas
e cada sorriso amarelo
embeleza a lágrima branca
que escorre no peito nuelo

arrume os sapatos por favor
separe as fotos em cor
das preto e branco
não lamente caso amanhã
escorra o vermelho por entre o tamanco

domingo, janeiro 02, 2011

sua rua

a voz rouca
atravessa as paredes
e as ruas da Barra Avenida
clamam seu nome
como cantam as melodias
do domingo à noite

distraí aquela rua
entorpeci alguns cantores
e chorei quase na mesa do bar
sentei de novo
no muro que nos dividiu
no mar que nos dividiu
o dia me iludiu

o tom me tocou
diferente de como
toquei você
eu não toquei você
mas mesmo assim
morrestes em mim
e de novo a rua
me enfeitiçou

me tomou como mulher
cantou a última canção
trouxe versos e vigas
encantou as luas da Barra
enfeitou as barracas do sol
fez dançar os casais bêbados

e nuca mais seremos os mesmos sós