quinta-feira, novembro 22, 2012

Desculpe Morgan, mas não me calarei


Abro essa exceção no meu blog de poesia, porque me sinto feliz e agradecida em apoiar essa causa.
Foi com o LuluzinhaCamp que eu aprendi a militância e é nessas mulheres que eu me espelho todo dia!
Por isso me juntei à Blogagem Coletiva Mulheres Negras e emprestei minhas palavras pra dar voz as que são das minhas.

#BCMulheresNegras
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O que me inquietou hoje e provocou um monólogo disfarçado de discussão foi o vídeo do Freeman (editado e que trouxe à opinião pública o que lhe mais é conveniente) que basicamente fala que as pessoas precisam parar de falar de racismo pra resolver o problema.
Ok, digamos que eu aceite esse argumento e me cale - mulher negra que sou, acusada de histérica se falo - mas aí fica a pergunta: se você tem um problema, seja ele de qualquer natureza, e esquecer ele se resolve?
Não, senhoras e senhores!
Não foi sentada em casa, ou na pia lavando roupas que as mulheres fizeram revolução. Se eu não me engano, algumas precisaram queimar sutiãs pra fazer valer alguma coisa. Desconheço QUALQUER civilização que fez revolução calado, dormindo, esquecendo seu problema.
Aliás, quando você "esquece" um problema, ele continua lá, camuflado, escondido, disfarçado, mas está lá. E era esse o argumento que faltava para o racismo velado brasileiro: vamos parar de falar que passa!

"Não, mas não precisa parar de falar não, eu só acho que tem que mudar esse discurso"



Que discurso? O discurso de QUEM?


Você já ouviu alguma mulher negra se levantar no ônibus (no melhor estilo Instituto Mannasés) e dizer "Hoje quero relatar a situação de racismo que vivi"? Ou por acaso você já abordou alguma colega de trabalho (de qualquer cargo) e perguntou a opinião dela sobre relações raciais? Sendo menos utópicos: você já teve aulas de história afrobrasileira lecionadas por uma professora negra na sua escola? 
O discurso do racismo não é o discurso do negro, assim como o discurso machista não é o discurso da mulher.
Todo discurso que se construiu até então não partiu do feminismo nem do movimento negro: padrão estético, econômico, sexista não fui eu mulher negra quem ditou, esse discurso não é meu e eu não posso ouvi-lo calada.

E pra aqueles que acham que a gente "se defende demais", os donos dos monólogos e das intermináveis listas de frases prontas, racistas, machistas e esteriotipadas, eu sinto muito, mas enquanto vocês atacarem a gente vai se defender. Enquanto eu puder construir meu discurso, eu não vou me calar.
Me perdoem os editores, a opinião pública, meu chefe e Morgan Freeman, mas enquanto 75% da população pobre brasileira for preta, enquanto 90% das empregadas domésticas morarem no subúrbio, enquanto minhas amigas negras ganharem menos que as colegas brancas (e menos ainda que os homens) e enquanto à noite, taxistas não pararem pra mim, eu vou continuar falando de racismo.

Uma homenagem singela ao meu querido chefe.

segunda-feira, novembro 19, 2012

torpor

as calças erram suas
passos largos que me
guiam ao infinito, Bahia
o meu desejo seu inferno
te condeno às duas
teu inferno somos nós
até te dizer te amo morrerei
até te beijar pra sempre somos duas
até ser sua somos mais.