quinta-feira, setembro 29, 2011

poesia após a morte

quem sempre te salvou foi a poesia
nas horas mais doces ou em que a
dor no mais profundo vinha e doía
era lá que as palavras ganhavam
função de aliviar fortes sinapses
acalantar a ferida como merthiolate
ardendo no início, sarando no fim

te pegando pela mão e te levando
a passeio na praia de jacumã igual
quando você cantava pra esquecer
fazia alto tão alto que alegrava a si
ela borra seu batom com lágrima
regenera a pele crequenta de sofrer
foi e será a poesia sua redenção:
senta então pensa e termina a oração

segunda-feira, setembro 26, 2011

imagem do dia

ela quer ver aquelas ladeiras
com paredes de grafite bonito
e as ondas do mar balançando
como os cabelos dele por sobre
seu peito nu e rígido de amores
ela quer ter o cheiro de acará
dançar, pular até doer a panturrilha
chamar de seu o homem das finas
linhas e mãos pequenas roliças
sentir o sol que sorri em cada
guri da esquina da Pituba à Barra
andar nos museus sem deixar de ver
os pretos que miram o tempo parar
sentir seu chão, seu céu, seu pão
se achar com tudo seu que ficou

segunda-feira, setembro 19, 2011

sonhos de uma noite de amanhã

tinha sede nos músculos
ardência nas peles duras
antes de você era um
pequeno e gostoso suspiro
nas noites em Minas Gerais
tinha umas loucuras matinais
pular muro, voar e dar
aí depois veio você
e deu uma vontade de receber
de ter e ficar só isso por um tempo
nunca mais você foi de mim
aqui toda noite fico eu sem
naqueles longos beijos nem

sábado, setembro 17, 2011

morena de yemanjá

falar mansinho na diplomacia
rezar baixinho e dar um abraço
com um tapinha nas costas
sorrir demorado e sempre dizer obrigado
tomar café e chupar picolé de Seu Luís
furar onda e amar o mar com suas algas
verdes e vivas iguais as contas de mamãe Zeca
aprendi com ela: mansa, elegante, singela
D. Francisca, a mulher primeira dentre as 7
a morena mais chic, sincera, humilde e bela
das margens azuis e salgadas do Rio Vermelho

quinta-feira, setembro 15, 2011

sede de mudança

nada de importante
é só poesia pra mudar
fazer algo diferente
de noite lá em casa

não há nada de revolução
letras agarradas na tecla
transpostas da cabeça aos pés
é o que me chama, é o que são

nada novo a gente pediu
só imaginou que podia ser
a voz do lado confirmou
você nunca fez nada, viu

nem relevante você é
nunca leu Dostoiévsk 
nem nenhum Romeu foi seu
chame isso do que quiser

é tudo menos o que querem ser de grande e infinita poesia


com açúcar e união

vamo juntar tudo
sua mão na minha
o refrão e a primeira linha
nossa solidão
vamo arrochar o guarda-roupa
afastar do copo minha escova
juntar nosso sofrido amor
traz um pouquinho de quentura
do desejo por mim bastante usura
e não me leve a mal
só quero que me pegue
e juntos pelo fim da distância
façamos a tal atração fatal

quarta-feira, setembro 14, 2011

last night you were there

espero a água do ralo descer
e com muita paciência
listo na geladeira
tudo que tenho pra fazer
deixo a profusão dos versos
atropelarem as louças na pia
e corro pro papel secar minha
mão com sabão e escrever de noite
atrapalho tudo dentro de mim
e ajo como se não houvesse eu
amanhã de manhã no expediente

os fantasmas do meu quarto esperam
enquanto eu ouço mais uma música
e penso que aquele menino me quer
alguém me disse que ficava sincera
quando escrevia ou bebia ou ria
já se foi toda a água e voltamos
juntos ao ralo de partida
cumpri a lista e amanhã meio dia
te direi o quanto te amo assim
meio como quando não queria


diálogo de um

se eu chamar
você vem, será
na manha
na minha
sem demorar
quero bombons
e bons beijos
demorados em mim
chegue aqui comigo
veja, sem pudor
as silhuetas e curvas
que a gente junto faz
me diz que vem e vai
chega no ouvido e me confunde
deixa que eu gosto, me iludo
como chamar pra comer é dúbio





terça-feira, setembro 13, 2011

termina

as dores do dia
um mundo de dedos
dos pés que calejo
ralando nas pedras
divago andando
que diabos fazem as pessoas?
devoram dados
descontam dívidas
escondem medos
decoram vasos
não andam como eu
não pedem, mandam
e os dias recorrem
terminam cansados
doridos e magoados
no quarto que é meu