sexta-feira, dezembro 31, 2010

domingo, dezembro 12, 2010

signos

palavras simples
não diriam
o que eu fiz
de tudo pra esquecer

todos os signos
juntos não representam
o que me apresentam
seus olhos

por isso desarranjo
tudo que posso
sinto o que trago
e abandono aqui
palavras que estrago

quinta-feira, dezembro 09, 2010

menu poesia

o que temos para amanhã?
poesia
café almoço maçã
refeição do dia
salpico palavras
corto parênteses
e na travessa: travessões
macarrões cozidos
ao molho mulher
e no café?
rima
menu: bacon no desjejum
sopinha de letras
e sobre a mesa chocolates
palavras doces dão fim
a orgia das terças


sábado, dezembro 04, 2010

a volta

de repente
aparece de novo
deixa tudo nervoso
os pratos caem
aparentemente limpo
e por dentro esbagaça
destroça, esmaga
veja o que provoca
infesta o ar e tudo
o que toca
se desfaz por dentro
e traz
a antiga sensação
de ficar bem e mal
em mais um verão

quarta-feira, dezembro 01, 2010

.

cachos me tomam
me envolvem me frisam
volta e meia me deixo
enrolar
enroscar
e meus olhos fitam
nenhuma flor ou laço
mas me embaraço neles
de longe sinto o cheiro
macio, brilhante
e quis passar
enroscar
enrolar
tal qual dedos
inquietos amantes

terça-feira, novembro 30, 2010

vaz(i)o

comer me dá vazio
vazio de te ver
vaga a palavra
não responder
é o caminho que não faço
o não que não consigo
desisto de comer
esqueço o que ia dizer
resultado de merecer
comer a palavra
emudecer
me perder nesse prato
vagarosamente engasgo
passo a palavra
à você

segunda-feira, novembro 29, 2010

maré baixa

areia fina
som de mar
menina
onda inclina
o mar olha
marola
vê demais
neblina
mareia o dia
e a concha fala
o que não mais
diria

domingo, novembro 28, 2010

moço de sábado

olhinhos claros
cabelos loiros
mãos moles
longo sonido
paixão listrada
coração batuque
e os olhos se viram

ritmo brisa
lábios frescos
colunas iguais
melodia Reckard
paixão listrada
pés batuque
e as mãos a pingar

braço magro
pele calma
cada tela bela
no seu olho:cama

terça-feira, novembro 16, 2010

ritual

poder a todos
os deuses nus
nessa cama
camamente
um imã energiza
uma unha chama
prazer a poucos
os instantes quase
os que são sempre
nossa trama
vagarosamente
inocentemente
irremediavelmente
poder aos poucos
prazer aos loucos

domingo, outubro 24, 2010

apertamento

retratos parados
pinga a pia
pinga lá fora, noite fria

paredes pálidas
e portas de natureza torta
jardim sem maçã ou erva morta

no espelho o banheiro
a meia luz da varanda
toma banho o chuveiro

sozinha a cozinha
a sombra passeia
dá pra ver a vizinha

apartamento tem querer
em pé tomando café
quer sua presença, seu cafuné

domingo, outubro 03, 2010

mal dormir

hoje o sonho me acordou você
e me veio a festa dos matos
quando o carro passa
trouxe a marca verde do sol
permanente na vista
e as montanhas redondas
iluminadas as retinas
roteiro feliz nos beijos espalhados
sonhos com músicas pra ninar você

quarta-feira, setembro 01, 2010

pra vir

chega
de te ver
de te longe
se esconder

deixa
de querer
de falar
me enxergar

esquece
e me some
me desfaz
desaparece

chega
chega logo
chega liga
chega perto
dá um chêro

domingo, agosto 22, 2010

lesera

um brinde as babaquices

idiotices e besteiras

ah nós! Contemplativos

parabéns aos estúpidos

as mesmices inúteis

as promessas vazias

um salve para os medíocres

e sua estupidez cega

que fundamentaliza o viver

aleluia, oh céus

e livre dessa inglória os meus

a alguns o infame poder

da insignificante criatividade

sexta-feira, julho 30, 2010

para Elias José

escrevi cem vezes o bilhete de amor
escrevi mil vezes o bilhete de amor
escrevi trocentas vezes o bilhete de amor

amor, você ainda lê bilhetes?
amor, e o som dos clarinetes?

escrevi mais uma vez o bilhete de amor
e nem virou poesia
dei-o ao franco-atirador

quinta-feira, julho 22, 2010

quinta-feira, julho 08, 2010

janela

apertado é o coração de quem ama
novidade não há para os poetas
pistas tristes, faróis vermelhos
cansamos de ter

cansado é o coração de quem ama
navalha para poucos
chuvas frias, passos silenciosos
amamos? vê...

malvado é o tempo pra quem tem
embriaguez nos sonhos todos
prédios acesos, redes vazias
distanciamos, crê?


sexta-feira, junho 18, 2010

homeopatia

poesia cura
macumba de curandeiro
dor de partida
ferida de coração
partideiro
boêmio, faceiro
cura e mata
devagar na valha
feita pra cegar
alguma pena
que venha ou vai
mandinga de olhar
poesia há de passar
nem que seja pra
jogar na cova
terra, lágrima e dor
última pá

quinta-feira, junho 10, 2010

depois pois

dez segundos depois do amor
está a morte
sim, podíamos morrer
depois do prazer
nada mais sentido faz
pra que homens trabalhando
meninos na escola
água empoçando
a morte prolonga
o sentir vazio profundo
depois dos dez segundos

terça-feira, junho 08, 2010

seu jogo

quem sou eu
no seu jogo
do bicho?
- ninguém
a mulher da banca
pobre garça elegante
esquizofrênico perambulante
leão que marca com a língua
homem preto velho
na janela
pomba branca triste
não sou eu
nesse seu jogo

(me perguntando pra você quem sou eu)

sábado, junho 05, 2010

meu mar

mulher
na frente mar
nada demais
como o vermelho do batom
na boca dela
boca da tarde
braços do mar
mulher má
e seus vermelhos escondidos
sangra boca e mar
batom bom gastar
transar a mais
ânsia de ver
mulher

segunda-feira, maio 03, 2010

cheio de tudo

tudo cheio
ônibus e saco cheio
na cidade
boca cheia
canta e enche
o pulmão e a barriga
ponto cheio
bem final
fim de linha final
paciência enche
rua enche
bueiro enche
email enche
pro nosso final
boca na linha: fatal

quarta-feira, abril 28, 2010

te vi no tchau

já vi o adeus
sério, eu vi
era um domingo
de manhã
de novo
já indo e dando
repetidos tchaus
repentinos maus
vi os olhos rompendo
a barreira do saguão azul
era um domingo
de novo
um novo
já dizia minha voz
eu sabia que ias
desde que chegou
e de manhã
rompeu minha vida
como todo dia
em que me cegou

segunda-feira, abril 26, 2010

deusa ou serei eu

rio de abelhas rainhas em sua cama
rainha é sua cama
de onde emana leite e mel
de manhã café e mel
gostos tão comuns o meu e o seu
do suor que selou o corpo
bebido e oferecido aos deuses do amor
é bom celebrar no ápice ir eternizando
horas num século
derramando o mel e o céu em nós

toda manha tem o mesmo
toque de cetim, de pano quente
cores de quentin sobre os corpos
um guerra onde a paz era sua
já perdi e nem tem graça
e roubei seu troféu comigo
bebi a bebida da sua vitória
dando adeus aos nossos deuses deitados

sábado, abril 17, 2010

quando não é inverno

a chuva caiu
e era montanha
quente
do umbigo pra baixo
lento de ver
na subida do carro
pleno vento
na orelha
e sabor de
menta nos dentes
como num passo
de tango ela passou
deixando úmido
tudo por fora
nem frio ficou
mas o abraço chegou
e o desejo no papel
eternizou aquela subida

domingo, abril 04, 2010

solos

comigo
solos de sax
não combinam
bate violento e
lentamente dói
é como mulher
que grita
a todo toque
marcando os tons
dando ritmo
são melhores
os de guitarra
baiana
muito menos
velozes, sutis
tendo o homem
a dedilhar, lamber
cada fio e traço
fino trato

é tão bom que dói

quinta-feira, março 25, 2010

pode?

pode ser desajeitado
torto, lerdo
rude, desfeito
tardio ou imperfeito
pode ser teimoso
disforme, invejoso
fraco ou preguiçoso
chato falho burro
bobo chucro ogro
ainda assim és pra mim
o mais de todos

quinta-feira, março 18, 2010

o que não se diz ou sentiu

poesia pintada
arte sentida
cada instante ficava eterno
tudo que durava um segundo era pouco

parar nunca mais
a memória olfativa traz
o texto todo na cabeça
sabias bem o que ia dizer todo dia

só o momento não permite
o olhar é fulminante
olhos de eternidade
feitos pra ficar sobre ela

e se o tempo acabasse ali?
seria só um quadro, perfeito
seriam múltiplos gozos, vozes
beleza da arte revelada


sexta-feira, março 12, 2010

photo

Gravado
como num bit de música
Igual marcas de sol
cortes de gilete

Registrado
feito linhas na estrada
palavras no dicionário
Assim como meus arquivos
no computador lá de casa

Pra sempre
rasgado na pele
Carimbado com suor
selado pelo sorriso matinal
na memória da alma

segunda-feira, março 08, 2010

visitante

desde que chegou o amor
o coração é insone
a agonia é certa
como todos os dias são quentes
borboletas no estômago
e reações impensadas
desde que o amor fez favor
de entrar sem licença
descansar as mãos pequenas
é que a intranquilidade reina
e bonita faz abrigo,
pede água e deita na cama
deixa os cabelos loucos
as mãos cabisbaixas e
os pés boquiabertos

desde que o amor entrou
as coisas por dentro se apertam
como se não coubesse tudo junto
não dá, coração chega pra lá
vê se dorme sem olhar
a nudez desse

quinta-feira, fevereiro 18, 2010

chegada

Caia em minha cama

Derrame suas palavras

Mais úmidas no travesseiro

Guarda-chuva de amor

Explosão de bueiro

Extintor

Banho de sentimentos

Cheiros insólitos e confusos

Durante a tarde quase-cinza

Mostre a água no banheiro

Parada para o silêncio

Inspirador

sábado, fevereiro 06, 2010

explicação ou do lado de dentro

Amor como cura
Como tarde colorida
Vem na poesia
E não é de verdade

Que se sente é apenas
O que disseram ser
Mesmo se vermelho for
Tudo por dentro

Pra ficar limpo
Triste e macio
É só sentir profundo
Uma pitada de dor

As coisas transformam
E palpitam no amor
Sempre o mesmo
No mesmo sentido

terça-feira, fevereiro 02, 2010

poesia de di noite

Cada solo de guitarra que vejo
é todo sonho de noite
virando realidade aumentada
de noite às vezes não vejo
o quanto te amo

E perco de novo as notas
do sax que estavam aqui
perto do céu que você deixou
antes de viajar em outros ares

O que penetram são moscas
e vozes melancólicas pra
lembrar a memória ainda
sincera comigo, como essa
dor sincera

Anda logo com isso
e vem ver aquele jazz
favorito pra nossa cama
e melhor pro baterista
aumente o volume e a vontade
realidade imensa do tamanho
da saudade que vai quando amanhecer

E a imagem ser só um nariz
fino e perfeito a respirar
os ares quentes do lado de cá
o lado meu da sua cama
era sempre meu
um sonho louco sem rima
sem nexo com muito som
agora me deixa te ouvir

Voe logo com isso
apareça pra completar essa música
e fazer par com a dor de dentro de mim

segunda-feira, janeiro 25, 2010

beira de mar

molha o pé na água
lava
limpa

anda na areia
mela
suja

senta na cadeira
pede
muda

nunca mais viu ela
cheia
nua

terça-feira, janeiro 19, 2010

vem

De onde esse olhar?
Esse calor que emana
Do corpo mesmo longe

De onde essa música?
Tocando com leveza
Cada nota de minha voz

Fica de onde vem
Porque é eterno se
Todo dia for diferente

Fica, porque desde que
Meus olhos viram teu sorriso
Quis beijá-los de perto

terça-feira, janeiro 12, 2010

quartos

o calor dos seus dedos
são vistos de longe
das janelas do quinto andar
onde o rebolar percorre
o menor gesto vulgar

úmidos são os pés encontrando
os meus tão perdidos
suspiros implacáveis
por sobre a varanda escura

que pena pois sei
do adeus iminente
tal qual ligeiro o
vizinho viu

desfazendo os sonhos
os laços
e os zípers
dos quartos do primeiro andar

quarta-feira, janeiro 06, 2010

receita

não falta muito pra te esquecer:
duas colheres de orgulho
uma colher de decisão
uma colher de sopa (cheia) de razão
Algumas pitadas de humor e gargalhadas
E um novo amor à gosto
Aí sim, ansioso e disposto
Sentarei no sofá
com o filme mais tosco
e apreciarei o início do fim

segunda-feira, janeiro 04, 2010

janeiro

era dia 3
mas era o 1º
sinal certeiro
amargo no peito

os dela eram lindos
macios, vivos
nas mãos passageiras
leves, ligeiras

fazia 1 ano
que estava a 1 semana
dos cabelos liso-enrolados
e dos cheiros na face

é como se já
visse ontem
o que aconteceu
a cada dia

como viu dia 1º
no sinal
o verdadeiro adeus