terça-feira, janeiro 22, 2008

crônica da janela do buzu



Como Itana bem observou
a galera adora sentar sozinha no buzu.
As cadeiras perto da janela são o alvo
preferido de qualquer indivíduo cansado,
jovem, idoso ou apaixonado. Melhor ainda
se houver um velho e bom MP3, que sem querer
querendo faz a cabeça encostar no vidro sujo
e empurar do peito a voz mais serena que se pode ter.
A paisagem ajuda a melancolia que passa como o meio-fio,
o poste e as meninas que andam na orla...
Só não sei o que será quando, de repente, o buzu estiver
cheio de melancólicos ouvidores de MP3 sentados na janela
e só estiverem vazios lugares ao lado deles: onde irão sentar os
outros melancólicos miradores de paisagem?

quinta-feira, janeiro 10, 2008

Imaginando abraço parte 1

Fugir com você eu quero,
largar tudo e parar por aí,
Nem que eu pare do lado de lá (...)*


Qualquer lugar
Um lugar do seu lado
na mesa pro café
um lugar no seu abraço
Deixar nossa vida me levar
Ir, rir e ficar
ficar por horas nos lábios
no peito
sus-peitos

Correr pra ver as horas passar
pular em cima do mar
amar por cima, beijar
e fugir de tudo
tudo que não era você
e parar por aí.

*trecho da música de Rita Ribeiro

Eu sempre...

Tive medo do ônibus passando pelo túnel,
Chupei picolé de baixo pra cima,
Passei a mão pelas paredes quando andava,
Respeitei os malucos,
Roí unhas,
Reparei nos outdoors,
Tive medo de Charlie Chaplin,
Morri de rir depois de muito chorar,
Gostei de meninos me tocando a cintura,
Cantei no banheiro segurando o sabonete...
e você?

sábado, janeiro 05, 2008

cuentos


Janelas abertas enquanto a chuva caía
e molhava seus pés recostados na parede.
Aquele dia cinza deixara sua camisa mais
escura;
Eram as lágrimas torrenciais.
Ele ama aquela mulher:
Gostosa, negros cabelos, eram todos negros
e amava lembrar de quando aquelas mãos o
tocavam. Gostosa!
Já não tocavam mais, e ele não sabia porquê.
Isso era pior.
Ela agora chegava estranha, não lhe beijava,
nem a noite ia cobrí-lo como fizera por 5 anos.

Ensopada da chuva, ela entrou batendo os pés,
e maldizendo aos céus:
- Porra de chuva. Miséria!
Guardou o casaco e foi fazer o café. Não esperava
que ele viesse falar com ela, por isso o susto
foi maior:
- Gostosa. Essa noite dorme comigo?
-Saia daqui - disse ela - Se saia!
- Não quer me sentir mais? Não vê no meu rosto,
choro por você...
- Não. Não vejo, não sinto, não quero.
Ele desconfiou de telefonemas que ela recebia, e
gritou como menino malcriado:
- Já sei, tem outro... e não me ama mais.
- Não, não é isso...
- Onde está o amor, mamãe? Não me deseja mais?
Cansou da minha...
- Cale a boca, imundo! - parou com a mão no rosto dele.
- Aposto que ele bate em você, você ama...
Ele a conhecia, ela sabia.
- Eu te amo, mamãe. Te quero!
- Eu não sou sua mãe!
Ele não respirou por um minuto.
-Você não é meu filho, e eu não te enganei todo esse tempo.
Ela, louca esqueceu o café que derramava no fogão.
Ele louco esqueceu que chovia dentro de casa; e ali
na cozinha, se amaram com amor fogoso de mãe e ex-filho.

quarta-feira, janeiro 02, 2008

a long time

São olhos azuis
Que penetram a alma
e fecundam-na com amor
São lábios vermelhos
Que beijam o coração
deixando manchas de saudade
São dedos brancos
Que acariciam o juízo
fazendo enlouquecer de desejo
São cabelos negros
Que roçam a memória
e excitam a alegria
É você chegando em mim.