quinta-feira, outubro 25, 2007

sobre as visões

Um calor infernal e um desejo de berber coca-cola,
mas em plena terça-feira, início do regime, não dá.
Cabeça baixa, testa encostada nos joelhos, esperava
o momento certo de partir... enquanto isso agradecia
pela nova calça jeans e pelo "reggae" do dia seguinte.

Quando decidiu levantar o olhos para mirar se chegara
a condução, passeou desde os pés até aqueles olhos claros.
Era um deus grego, o sonho que andava de gravatas,
sorria encatador.

Olharam-se sem parar. Fixos. Intensos. Desejosos.
Os lábios respondiam dizendo beijo, um segundo parou.
Mas o fluxo dos carros cutucou o ombro, e as mãos se
tocaram sem querer, pra nunca mais se ver.
Da janela, os olhos falavam adeus e aquela visão ficou
guardada pra sempre...
... até não embaçar com o olho azul.

domingo, outubro 21, 2007

Não

É o que não dá pra te dizer.
então deixo a dor vir e ficar.
negar o que não tenho é ser injusto,
melhor assumir e dizer: Não tenho.
Ter consciência e não ter juízo.
Mas querer, querer mais.
Você.

Quero te dar mais do que o que vemos
Mais do que o eterno e do que o tempo
A neve que está no topo
Na beira do mar
(...)

Querer me dar será querer que você se dê
Sem medo de ser e ter
Sem não.
*

* trecho da música Sem não de Lô Borges e Caetano Veloso

domingo, outubro 14, 2007

belle belle

Feriado bom.
fui a um salão de beleza...
lá o cheiro bom, o excesso de mulher
e a cor de rosa contrastavam com o futebol
que eu tentava assistir na TV.
Quase impossível. Mulheres riam e falavam:
- Quem tá jogando?? - eu perguntava pra quê saber!
- Cê viu que Mario cegô a mulé? - e imediatamente...
- A novela tá massaa!

Enquanto decidia a cor das minhas unhas:
- vermelho ou branco? - demorei responder, uma mulher do nada apareceu:
- Se for paixão é vermelho! Me diz aí tua história...
- Ahh... é um amor distante, nem vale a pena.
E do nada, como ela apareceu, começou a fazer versos,
rimas, combinando palavras e dando som a elas.
Foi quando de repente:
- Vermelho ou branco, Larissa?
- Vermelho, né?

segunda-feira, outubro 08, 2007

aterrissagem

Aparentava ter 60 anos.
Um camisa verde coloria sua face cinza,
cansada e ainda cheia de vontade de vida.
Sentado de pernas levemente cruzadas, tinha um caderno e
anotava...
... escrevia sem parar enquanto olhava os aviões partirem
e chegaremm e chegaremm, partiremm...
Lembrava meu avô, que nunca conheci, é verdade, mas eu sentia
que lembrava. No sorriso. Na aura.

Dias depois estava lá, mesmo lugar, mesmas pernas, mesmo caderno.
Sentado, interroguei:
- Escreves? Aposto que é sensível!
- Não. Gasto a solidão!
Todos são solitários, mas ele dava a sua aos aviões.
- Uso meus dias a contar quantos vem e vão... quais vão e nunca voltam.
E eu esperava um também, há tempos.
- E... - ele me interropeu antes que perguntasse porque.
- São como mulheres. Pousam, deixam e levam algo.
Os que vão, nunca sei se voltam. Não sei quem são, de fato.
E continuou, me permitindo olhar o pouso de um avião:
- Só espero todos os dias poder saber quem aterrizou, se voltou...

Não reclamo mais daquela longa espera.

sexta-feira, outubro 05, 2007

um gosto de sal

quando li aquelas palavras quiz dizer algo maior,
mas me calei.
mania de querer traduzir em palavras o que sinto...
(...)

dessa vez fiquei lendo o que ela escrevia,
e de cada linha um trem, palavras-vagões.
Ela deixava a estação e eu ficava olhando
batimentos cardíacos e suor nos pés...
(...)

as partes desejavam e transpiravam se encontrar:
mãos, peitos, pés e olhos.
sorrir naqueles lábios, ter as mãos no peito
e entrelaçados, sentir as costas molhadas, gélidas
os olhos trêmulos derramando gosto de sal na boca

dá gosto a vida.

segunda-feira, outubro 01, 2007

Abbey Road

Passando a rua hoje, três jovens famintos
tiveram suas vidas marcadas para sempre.
Era sol, Salvador, um dia ótimo pra ficar
em companhia um do outro até mais tarde...
... foram comer, conversar e rir no mercado
perto da faculdade.
Faixa de pedrestre vazia, sinal aberto,
avenida movimentada. Uma bicicleta tão magra
qaunto seu dono e aconteceu:
Um motorista educado respeita a faixa de pedestre
e pára. Ele pára... como assim?
Ehhh... ele pára e Paul, Ringo e John atravessam a rua
num ritual glorioso, como se fizessem pose pro LP.
E ao fundo um ruído corta o clima:
- Vai viado!