terça-feira, julho 31, 2007

sobre o cinismo

Ele sabe que te ama e finge.
Ela ama quando ele sabe e finge.
Os políticos se odeiam e fingem.
Sua mãe sabe dos seus erros e finge.
O padre não tolera homossexuais e finge.
Os homossexuais amam os padres e fingem.
Ele te olha e te vê mas finge.
Você deita na cama e dorme, finge.
Ouve alguns ruídos com nitidez, mas finge.
Eles discutem sobre filosofia fingindo saber.
Declaram coisas sobre o céu e o espírito que fingem conhecer.
Os atores fingem no teatro.
As prostitutas fingem nos cabarés.
As professoras fingem nas salas de aula.
A Majestade Imperial finge.
E você finge entender o que eu quero exatamente dizer.

terça-feira, julho 24, 2007

e os amigos

são cúmplices das loucuras
das insanidades...
tal qual Tim Tim e seu fiel cão
Dougue Funny e Costelinha
Batmam e Hobbie...
Companheiros dos porres,
dos vômitos, das lágrimas
dos intensos momentos de risos
(que o diga a tia da cantina)
dos bilhetes na sala de aula.
Os amigos sempre estão, bons ou maus
quando são porres ou porras loucas
quando não concordam e mesmo assim amam
e quando fazem planos e não os cumprem
serão sempre os mais loucos e fiés se,
caminharem bêbados mas do seu lado
falarem merdas e elogiá-lo com elas
acordarem com fome e oferecer-lhes o pão.
Amigos que despertam as mais lindas emoções
e tiram da lágrima o mais belo sorriso...
tal qual Chaves e Kiko, Timão e Pumba,
Mônica e Magali, O gordo e o magro...

aos loucos amigos Val, Keroly, Itana, Nicholas
Celine, Allan e Alan, Vivian, Louis, Suka, Nani...
e os outros tantos loucos que fazem parte de mim.

segunda-feira, julho 16, 2007

Ele diz:

- Você me machuca, dizendo isso...
- Você me machuca quando não diz nada - pensa ela.
- Bom...
- Tanto o que dizer, quase nada a fazer - pensa ela.
- Eu ando por aqui e nem penso em você mais, não te amo.
- Era isso que eu tanto queria "ouvir"... agradecida pelo seu ódio sincero
- Bom... adeus!
Tu sabes que eu te quero apesar de ser traído pelo seu amor fingido*
- Adeus - disse ela.

trecho da música Pra que mentir de Noel Rosa.

domingo, julho 15, 2007

vertige

Ao olhar que tudo mira.
Que vê as lástimas e alegrias,
as cores e os amores.
Que vê a avenida e o mar
os manequis e os caixões,
os bonitos e os lindos.
À retina que enxerga o céu e o chão
o barraco e o casarão,
a cidade alta e a cidade baixa.
À esse mesmo olhar que chora e ri
do filme de Noel Rosa, eis que vos ofereço outro sentido:
a audição.
Se fecha olhar e ouve o som que vem das feiras,
escuta atentamente o barulho de dentro e de fora do ônibus.
Dorme e ouve a respiração, o ronco,
o louco som dos corpos em atrito,
o riso de quem senta ao lado.
O sagrado som dos atabaques,
o drum n bass dos rastafaris,
o reggae dos sambistas
a música que entra pelos ouvidos
e faz a lágrima correr dos olhos...
Eis o desafio: ver com os ouvidos
o que os sons tem pra mostrar.

domingo, julho 08, 2007

Todo poder a Ela.

Sentia-se forte, segura.
Via-se linda no espelho:
- Que mulher exuberante! Que olhos penetrantes!
A maquiagem leve a fazia muito mais jovem.
Nunca tinha reparado, mas seus seios estavam mais bonitos.
Seu cheiro também era bom.
Seus lábios que proferiam melodias agora eram melados de batom...

...e sorri para todos que a olham e insinua seu olhar sedutor,
forte e segura dança nos diversos braços aconchegantes
e baila com a segurança de uma passista de escola de samba.
mas o que a faz sentir poderosa?
o medo de não ser.
por momentos ela é sim, comandando a dança
olhando segura, dando passos largos e caminhando com segurança.

sou a sereia que dança
destemida Iara, água e folha
da amazônia.
sou a sombra da voz da matriarca da Roma negra...
(...) sou preto do norte, americano forte
com brinco de ouro na orelha...

essa fortaleza se desmancha num beijo
em dois, em três,
e se desfaz numa lágrima abençoada pelo pôr-do-sol
que aponta no belo horizonte.
o poder é traduzido na força das mãos
que encontram o colo seguro
nos lábios frios, no vento cortante.
o poder é vencido por um beijo.

trecho da música Reconvexo de Maria Betânia.