sábado, maio 16, 2009

Quando tudo se ascendeu já era tarde e o que havia era uma mulher de bruço ao lado da banca, na outra esquina, a poucos metros do banco dele. 
Ele, com os olhos remelentos da noite anterior, queria voltar pra casa, tomar café e dormir mais, mas não resistiu e quis vê-la. Parecia uma boneca de louça. Vestia uma saia de chita e uma blusa preta. Era aquilo mesmo chita?
O que importava mesmo era a rua deserta com os garis amanhecidos que não ligavam pra ela. Dessa vez olhou para os lados. Observou tudo e andou mais devagar. Pôs os pés perto da cintura dela, olhou para os garis e agachou:
- Hey. Você está viva?
Nada
- Me responda, ei.
Nada. Sacudiu com força.
- Moça! o que é que há?
Os garis pararam de varrer e arregalaram os olhos. A rádio comunitária desejou bom dia.
- Quem é você? - disse a mulher, virando cuidadosamente.
- Você está bem moça?
- Perguntei primeiro - disse ela.
- Não importa, pode se levantar?
- Não sei, me ajuda?
E ele a carregou até o banco mais próximo, como cuidado de olhar para os lados e conferir os poucos transeuntes .
- Já estou melhor. Foi ontem à noite...
- Sabe o que foi aquilo?
- Não sei, mas estou bem. Pode me deixar aqui.
Deu um passo pra trás e fitou os olhos dele. Os dois tinham remelas.
E aquela saia de chita, porque ele achava que era de chita? Ficou olhando pra ela, enquanto se limpava e batia na sala.
Caiu em si e foi saindo devagar. Continuou a olhar os pés e o chão, o chão e os pés, agora pensando naquela mulher deitada no chão. Ele não sabia, mas ela o acompanhou com o olhar até ele sumir no horizonte.
[continua]

segunda-feira, maio 04, 2009

Se você lesse

deixe eu te amar
ruim, desajeitado
estúpido e muito
não me abraçe!
Me deixe chorar tudo
e o que ainda falta chorar
não me acalme
não me corrija
não me diga palavras boas
me deixe cair
me deixe errar
te amar torto
injusto, sozinho
triste e grande
Não explique esse amor
não meça distância
nem impeça a loucura
não me ouça falar