- Essa eu fiz a três horas... essa aqui tá em branco.
- Perfeito!
Admirávamos naquele sábado a tarde num lugar nada
propício. O ar cheirava a mulheres e todos os homens
que passavam procuravam as pernas esticadas sobre as
pernas das manicures.
Ele estava sentado com expressão cansada, maõs inchadas e
levemente cruzadas sobre as pernas, um olhar parado. As
mulheres se preocupavam com cabelos e sombrancelhas e eu
esqueci que estava lá para qualquer serviço deste, prestando
mais atenção no que acontecia do lado de fora. Sentei-me ao
lado dele, que olhou meus quadris balançarem e me mostrou o
que tinha dentro da velha mala, quando viu meu olhar interrogativo:
- Essa eu fiz a três horas... essa aqui tá em branco.
- Perfeito! - disse. - Como o senhor começou?
- Isso é de criança... de cinco anos... ahhh fia é estória pra
hoje não.
- Então tá, eu... - e não me deixou completar, dando-me mais alguns
desenhos.
- Lá na casa de minha tia eu comecei a rabiscar nos papéis,
e até hoje eu faço, sai tudo da minha imaginação
O sotaque denunciava, ele não podia ser baiano.
- O senhor não é daqui não, é?
- De Pernambuco.
- Ah essa camisa é do Santa Cruz de Recife...
- É, fui jogador também... como eu já te disse, não é estória pra hoje.
E fixei o olhar sobre aqueles cabelos engranhados, matutando porque
Seu Severino frenquenta o salão: as pernas das mulheres, os seus desenhos ou um corte de cabelo?
5 comentários:
Eu acho que tá mais para as pernas das mulheres. O papo dele é só distração.
covardia... perna de mulher: metonímia mais que sexual.
ótimo texto!
Cuidado com seus quadris...
Que tem as pernas das mulheres?
Temos culpa se são bonitas, oras!
aaa
você escreve bem demais, moça!!!
bom ler as coisas que você escreve...
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